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| La Burca em dia de contaminação. Foto por : Dagma Miscelânea |
Eu zerei. Nada entrou. Nada saiu. Zero. Vácuo. Só o barulho agudo do meu nervosismo e o sangue grave correndo em minhas veias. Acabei. Vácuo. Zunido (in)finito. Não rezei, apenas reclamei. Internamente, perversamente. Malvada e ingrata. Nada. Seca. Morta. Um recado inútil, nunca passado. Zerada, cheia de números que não somam. A arcada dentária derrapa em minha boca, mordo o verde e engulo a carne pesada. Gases, cólicas, gritos sufocados em vergonha. Se quebro, continua quebrado. O barulho da janela. Anos e anos e a janela continua gritando, berrando, arrastando o barulho de ser janela.
E não há óleo que a cale. Não existe o óleo. Sem conserto assume o erro. Cabe no erro, confortável erro. A sombra hereditária castiga, mastiga. Queima, arde amarga. O catarro não sai, gramas de quilos salgados escorregam guela abaixo. Gosto ruim, entorpece-me o sangue frio. Bem embaixo, lá embaixo, deito-me. Estou gelada, apaixonada pelo delírio. O desprezo engorda o desgosto, já não mais desgosto, e sim, gosto. Eu zerei. Nada entrou, nada saiu.
Texto provavelmente escrito em 2007, encontrado em um zine semi-esquecido da autora.