Enquanto o sangue escorria timidamente, a dor se contorcia e aos poucos levava o seu dono à demência. Não dava pra suportar mais. Foram anos de agressão constante. Nem um pingo de carinho para confortá-lo. Que brutalidade. Ele não ia ficar mais quieto, obediente, aceitando tudo e todos. Que dor infernal. O dono tinha que sentir de uma vez a tormenta. E assim foi.
Agora a bunda o arrastava pelo corredor, esfregando a pele junto aos tacos e fiapos de madeira que se soltavam do piso. Um dos fiapos, dos grandes, atravessa uma das pregas ainda resistentes. O sangue deixa um rastro. O grito de dor é sufocado pela ânsia e o vômito é esguichado fazendo o percurso do estreito corredor. A acidez do vômito é sentida imediatamente e o líquido gosmento acompanha a bunda que o carrega dilacerado até o quarto. A porta do quarto estava escancarada e o ambiente fedia a polvilho azedo. O sujeito desfalece próximo a cama. Os lençóis estavam podres e esporreados. Haviam várias garrafas vazias, vermes mortos e recém-nascidos de frutas emboloradas e cinzas espalhadas pelo chão. A janela tinha o vidro quebrado, lembrando uma estrela de sete pontas desiguais. O cheiro azedo de polvilho misturava-se a um bafo úmido de suor a 40ºC. Era um clima agradável para um cu humilhado.
Olhando mais intimamente o desfalecido buraco, percebia-se uma ponta de vidro cravada no meio. Era uma das 7 pontas da janela de vidro quebrada. Alguém deve ter estilhaçado a janela e, o cu, desatento, aceitou tudo.

Nenhum comentário:
Postar um comentário