sábado, 20 de março de 2010

Personal collisions

 Eu atravesso o quarto esfumaçado e a porta está sempre trancada. Ao tentar abrir a porta a maçaneta escorrega de minhas mãos caindo ao chão. Eu não consigo sair deste ambiente enfeitiçado. Eu quero sair? Eu preciso sair? Começo a lembrar do velho e doentio costume de ser eu mesmo, tão longe do frágil, perdido em toques, teclas e putaria. Eu aperto o botão e jorro na tela empoeirada. Meu prazer caduco, meu animal faminto, minha mulher vencida. A irmandade dum homem só, nula. Anula. Limpo meu suor diário e escrevo num box a repetição da arte. Eu imito a arte e esqueço a vida. Os sons saem da minha garganta e não tenho nada a dizer. E falo sem parar, canso meu diafragma, abro a boca, sugo o ar e a espiral de minhas palavras atravessa os ouvidos dos cansados de mim. E tento falar, e falo para tentar dizer que estou mudo. Eu surdo você. Minha pele lisa sempre escapa. Fujo, corro pra longe mas estou próximo, próximo demais. E me machuco, cutuco as feridas e deixo sangrar pois estou próximo demais e, fácil de escapar, conheço atalhos, riachos de mim escorrem ralo afora. O cheiro do ralo invade minhas têmporas, poros e crucifixa minha fé triste e pobre. Sou um homem pobre irradiando ouro fraco. Os tolos compram. Teimo no fim antes do começo. Saboreio as imagens do fim. O gosto do combustível queima em meu estômago. Diluído, absorto, vazio. Esqueço a hora de levantar, esqueço a hora de dormir, tenho azia do descanso e me escoro em sofás gastos. Minha chave gira em falso e tenho muitas coisas guardadas não sei onde. Uma estranha girafa de pelúcia em minha garagem tem a cabeça estourada e me lembra que sou feito de isopor. Há bolor, traças e goteiras por toda parte de mim. Sou um jardim de éter, seco, semimorto, murcho. Rego-me até apodrecer. Contemplo cego o meu relógio.

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