domingo, 13 de julho de 2014

Amor orgânico



Orgânica
Pluma
Messiânica
 Névoa
Raiz
Orvalhada
Na pele
Botânica
Nave
Tato
Tudo
Fundo
Úmido
Solto
Riso
No mundo
Amor 
Pulmonar
Flutuar
Entoar
Cantar
O revoar
Sem fim
De ti.







terça-feira, 17 de junho de 2014

HHH





"Hand in her hair, hand in her hand, hand in her hair
I stopped feeling bad
I stopped feeling mad"

( provável capinha do novo single da La Burca)
Homenagem dupla, Hilda Hilst e à ela.



domingo, 6 de abril de 2014

Então, garota.








Ela é apenas uma garota
Que ruge como mulher sensata
Ela é apenas uma garota
Que ama como pessoa insana
Ela é apenas uma garota
Que brinca no lascivo fio & lâmina
Ela é apenas uma garota
Que jorra no coração em tantras
Ela é apenas uma garota
Que finca sua presa & drama
Ela é apenas uma garota
Que escreve, rasga & clama
Ela é apenas uma garota
Em chamas, piripaque & cama
Ela é apenas uma garota
Que eu peço, rezo e amo.


sexta-feira, 7 de março de 2014

Buraco e borda

Às vezes me dá uma vergonha de viver, uma vergonha da vida. Não da minha vida. Sim, as vezes da minha também. Uma preguiça e uma covardia em se respirar.  Um suspiro demorado que teima no pensar avergonhado.  Às vezes a vida me dá vexame. Me dá injúria e fúria. Mas isso é o pouco que conheço, ou parte do que conheço no batimento cardíaco diário. Refratário. 

Vejo os desenhos das vidas. As formas e cores que podem ou não vir acompanhadas de ventos mornos, frios, tímidos ou como tempestades tropicais. Há o preto e branco também, somado a algum resultado cinza meio desbotado, e que, por mais que se passe a borracha será sempre acinzentado.  Porque uma coisa é e outra coisa nunca será. Então por que teimar e queimar os papéis e rascunhos na umidade? Talvez e necessário encontrar unidade.

Claridade? Ver as claras. Bater as claras em neves. É bem demorado o processo – digo, o processo culinário – mas que se dialoga no hmm, bater de asas? No fofo, no floco em neves, leve. “Passarinho fez um ninho em meio aos espinhos”, dizia a minha canção de estrofes recém-aportuguesada. Mas há a rima e o refrão, por mais trouxa e frouxa que pareça. Ou que se faz parecer ou estar (diga-se de passagem, e as vezes de estadia um pouco demorada). Começar, cantarolar a si mesma. Ver fotos antigos e dar risada. Porque uma coisa é se lamentar e a outra é se festejar.  

Mas há os abismos cheios de ismos com suas beiradas férteis e tal como beirada, um pedaço e um espaço. Uma semente. Um respiro. Uma vergonha. Um alívio. Um equilíbrio. Um chão fino e rente. Uma parede. Um escoramento. Uma selvageria. Um desmoronamento. Uma duna. Um grão. Um piscar. Um apagão. Nascimento e morte. Gozo e sorte. Sempre escolhas e oportunidades lancinantes, somos contextos humanos e acreditamos ser – porque aqui na humanidade inerente não há escolha em não ser.  Tem tudo aquilo que nos é percebido pelos livros, consciência coletiva, brigas e apertos de mão. Como um script sem script algum, atemporal, mas que vai acontecer conforme o script, meu grande irmão. Células e idades e coração não programados para enfrentar o que já foi diagnosticado na formação anterior ao se pensar “eu”. Porque o que há de ser é o que já ouvimos falar, pensamos saber, precisamos perder, queremos conhecer. E nunca vamos saber. Porque e para quê descobrir o mistério e tudo então ficar infértil?

Imagine um mundo sem mestres, sem médicos, sem psiquiatras, sem escolas, sem esmolas, sem dinheiro, sem fome, sem arte, sem marte, sem fábulas? É, temos que nos foder um pouquinho. O porquê eu não sei.  Ah sim, lembrei, porque necessitamos fantasiar a vida, oras. E inventamos o contexto humanidade para não enlouquecermos. Será que não seria melhor desmistificar tudo duma vez e virarmos macacos artistas ingratos?

Somos números oníricos constantes.  Que se explodem com a possibilidade territorial. As vezes me dá um pouco de buraco e borda sim, pensar a vida assim.


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

barquinho

                                    

                                                  Vontade de virar barquinho neste exato momento, 
                                                                             só pra poder ficar com a água 
                                                                                    num contato permanente 

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Súbito 2014



Todos os espelhos dizem adeus
No calendário súbito
A velha cara mira a carabina
Sou a mesma desfalecendo a outra em mesa
Mãe, pai, sangue e tinta
Aparecem no desaparecer da despedida do hotel de 20 anos
Ontem a glória nunca exata exala o vínculo em cinzas
Tome uma ou duas doses, brigue duas ou três vezes
Com a condição de não assumir a recompensa em se despir
Meus 30 e poucos goles de a-deus
Minhas manias e escadarias em escárnio e honra
Tudo o que não sabia-confundia- iludia
Livros e receitas sujas, embebidas na nostalgia da repulsa
A mesma cara desvia a carabina
Em liturgias de decepção,

Travestindo injúrias de sangue e sabão.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Sobre a mesa



A mesa era escura
Como meus sonhos mais sombrios
Eu não conseguia mantê-la limpa
A mesa, fria, abraçava as lembranças inseguras
Tolhia, doía e invadia ingrata

Fixa, imóvel e gigante pelo tempo
O tempo, o maltrato domesticado,
A raiz de mármore sujo mastiga
O tronco enraizado de ladrilhos quebradiços

Redonda e familiar,
Grita o sufoco a distância
Pequenos buracos cravados em sua superfície
Pratos, talheres e dentes rangentes

O não-diálogo interno,
O declínio em perspectiva
Emudecem as cadeiras indigestas
Resta um ao pé da mesa a sobreviver
A resistir a si mesmo.