sábado, 26 de dezembro de 2009

Parestesia gratuita




Eles me arrancaram o paladar e a sensibilidade
E eu ainda sinto o gosto exaltado de sua química
Me costuraram feito um bezerro e me examinaram como experimento
Como um túmulo aberto há 4 dias meu hálito ecoa
Os sons caminham lentamente para fora da minha boca
E o estralar de ossos em minha cabeça funciona como um brinquedo quebrado
Todos vestiam branco e sorriam anestesiados
Sem nenhuma explicação audível seus gestos traduziam tudo
E eu não podia abrir meus olhos
Então consegui ver meu reflexo no espelho fosco
Mas o horror já tinha se instalado em minha boca.


obs: Letra das antigas feita em  "homenagem" aos pretensos profissionais de odontologia da USP que me ferraram por mais de 5 horas numa maca cirúrgica para a retirada de 2 dentes do siso em 2003-2004. A parestesia ficou de lembrança em alguns pedaços da minha língua.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Komuna Kamikaze









Seus olhos foram pisoteados, havia terra em seus lábios, o sangue, seco, entupia o nariz completamente, e o cuspe, amargo, chorava saindo de seus poros. O animal agonizante não exitava em se entregar. Acabem de vez com minha sina, pensava. Fora escolhido entre 29 por ser o mais robusto  daquela região árida, de bichinhos tão mirrados e esgotados. Mas poderiam ter feito o trabalho direito, e acabado logo com o serviço. Mas não, escolheram o modo mais sarcástico, cruel e nojento. E gostavam de observar a sua agonia. Coitados, foram ensinados a odiar, humilhar, desrespeitar e matar. Filhos da cultura do desprezo, inumana. Pra começar tiraram a pele de seu pescoço com uma faca não muito afiada e mijaram no local pra colaborar com a dor. O dorso foi meticulosamente açoitado e torturado com inúmeros objetos pontiagudos e enferrujados. Os dedos arrancados com um tipo de corda encerada em vidro, potente como linha de pipa em cabeça de motoqueiro desatento. Os poucos pêlos foram dizimados pela pinga ardente em fogo. Queimaduras de cigarro eram vistas em sua cabeça semi-desfalecida, ainda urrando como um pobre diabo. Zé Podre, magro, torto e alto feito vara de bambu, ria e se contorcia da feiúra dos atos de seus comparsas. Ele, o mandante da vez da aberração violenta, gostava principalmente de ouvir os berros do vivo-morto e para isso levava um gravadorzinho vagabundo e punha uma fitinha regravada diversas vezes pra captar a ação. E ficava ouvindo por dias em êxtase até escolherem outra vítima. Seu bando agia de forma aleatória e insana. Bastava o cabra aparentar um mínimo de estrutura física resistente ou diferente que se “encantavam” demencialmente. Não, não poderia ter um mais forte que o outro ali. Complexo de inferioridade? Não sei. Mas o caminho era a pura insanidade. E, assim, atacavam-se em bando, pois incapazes que eram ao agir ou pensar sozinhos, se matavam em ritmo macabro. O bicho-homem pego desta vez não teve escolha, e agora os 28 que sobraram já ansiavam pelo próximo de seus próximos. E com fome esfolariam um a um, até que nunca mais se tivesse notícias de gente dessa espécie, que viviam em complacente comunidade suicida. Só para constatar, Zé Podre foi o próximo pois sua altura andava incomodando Jão Anão. E sua fitinha foi a trilha sonora. 

Depósito






Patas humanas escorregam na obscura luta altruísta
O propósito pessoal, o propósito é pessoal
O despropósito atemporal escorrega em lutas coletivas.






obs: Copenhage é uma cidade de chocolates derretidos??? 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Suporte de disfarces






Os originais se perderam
e há tempos os rascunhos se tocam.


Desenhopoesia por Amandla, com cheiro de poeira (2005?2004?)