sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Komuna Kamikaze









Seus olhos foram pisoteados, havia terra em seus lábios, o sangue, seco, entupia o nariz completamente, e o cuspe, amargo, chorava saindo de seus poros. O animal agonizante não exitava em se entregar. Acabem de vez com minha sina, pensava. Fora escolhido entre 29 por ser o mais robusto  daquela região árida, de bichinhos tão mirrados e esgotados. Mas poderiam ter feito o trabalho direito, e acabado logo com o serviço. Mas não, escolheram o modo mais sarcástico, cruel e nojento. E gostavam de observar a sua agonia. Coitados, foram ensinados a odiar, humilhar, desrespeitar e matar. Filhos da cultura do desprezo, inumana. Pra começar tiraram a pele de seu pescoço com uma faca não muito afiada e mijaram no local pra colaborar com a dor. O dorso foi meticulosamente açoitado e torturado com inúmeros objetos pontiagudos e enferrujados. Os dedos arrancados com um tipo de corda encerada em vidro, potente como linha de pipa em cabeça de motoqueiro desatento. Os poucos pêlos foram dizimados pela pinga ardente em fogo. Queimaduras de cigarro eram vistas em sua cabeça semi-desfalecida, ainda urrando como um pobre diabo. Zé Podre, magro, torto e alto feito vara de bambu, ria e se contorcia da feiúra dos atos de seus comparsas. Ele, o mandante da vez da aberração violenta, gostava principalmente de ouvir os berros do vivo-morto e para isso levava um gravadorzinho vagabundo e punha uma fitinha regravada diversas vezes pra captar a ação. E ficava ouvindo por dias em êxtase até escolherem outra vítima. Seu bando agia de forma aleatória e insana. Bastava o cabra aparentar um mínimo de estrutura física resistente ou diferente que se “encantavam” demencialmente. Não, não poderia ter um mais forte que o outro ali. Complexo de inferioridade? Não sei. Mas o caminho era a pura insanidade. E, assim, atacavam-se em bando, pois incapazes que eram ao agir ou pensar sozinhos, se matavam em ritmo macabro. O bicho-homem pego desta vez não teve escolha, e agora os 28 que sobraram já ansiavam pelo próximo de seus próximos. E com fome esfolariam um a um, até que nunca mais se tivesse notícias de gente dessa espécie, que viviam em complacente comunidade suicida. Só para constatar, Zé Podre foi o próximo pois sua altura andava incomodando Jão Anão. E sua fitinha foi a trilha sonora. 

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