sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Cócegas









Não há nada mais completo do que contemplá-la
Seus lábios rosados e entregues
A pista inteira de seu corpo molhado
Eu decolo em você
Eu imploro em você
Eu aterrisso em você
Unidas em afeto e voo
Sou longe em você
Escreve teu nome mais uma vez em minhas costas
Somos cócegas explodindo, amor.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Óleo




Amor é um rio oleoso e eu devoro toda obesa em prece intensa
Cíclica, meus olhos vidrados
Viscosidade macia e violenta,  me seque em paz
Estou manchada, encharcada
Eu fraquejo em querer, em não ser
Eu não amo
Derramo.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Sonho bolinado





Meu namorado acabava de me deixar na estação, foram várias, eu que ando atordoada, penso sempre que estou indo no sentido contrário, embora a chegada seja sempre no destino que me parece correto. É, estive e estou um tanto incorreta, não sei, deve ser o carma ancestral moral jesuíta em todos nós. Nós? É ainda falta desatar um tanto. Mas vejam bem, essas pílulas nos confundem, suas tarjas sujas tentam nos limpar.
Então fui embora. Disse adeus, um beijinho aqui e ali, um respiro aliviado e internamente demorado por poder inspirar um pouco de realidade, conjugal que seja.
Minha poltrona era a 30, sim, estava voltando num bate-volta frenético para minha cidade berçário. Fiz 31 há 4 dias, mas me deram a 30. Tinha a 24 ou a 27 mas essas aí não quis não, muito complicada essa fase, por ora, poltronas. Eu sempre gostei de ficar na janelinha, assim como suponho, a maioria. Mas estava no corredor. O moço chegou, o da janelinha. Levantei, ele sentou. Magricela, um narigão, branquelo e olhos arregalados. Eu estava despenteada, como sempre, porque sou uma alma despenteada. Meus olhos estavam meio manchados pelo lápis preto e meu batom vermelho estava mais para o rosa, porque havia me despedido em bochechas e bocas minutos antes. É sempre chato ficar em elevador e em poltronas com desconhecidos. Acho que elevador é até mais legal porque passa rápido, o constrangimento evapora conforme os andares vão nos aliviando. Enfim, o moço narigudo começou a puxar papo- e, ai!- tinha bafo de tabaco. Sinceramente detesto este odor labial. Disse que havia acabado de chegar da Itália e estava indo a um congresso sobre educação numa cidade próxima a minha. Não dei muita bola. Mas ele insistia.
Falou que voltava de férias de lá, era italiano(mas nem dava para perceber sotaque algum-só quando perguntei se ele falou que era italiano mesmo que realmente começou a falar um pouco diferente-mas bem pouco), e foi  matar saudades ou sei lá o que com parentes e amigos da terra. Tinha acabado de se mudar definitivamente para  o Brasil – no caso São Paulo, no começo do ano. Mas vivia por aqui há uns par de tempo. Fazia pesquisas antropológicas com índios do Pará desde 1999. Ele aparentava ser novo. Uns 30, no máximo, talvez até 27. Fazendo a contagem...2012-1999= 13 anos de abrasileiramento. Sei não, devia ter começado nisso bem novinho, talvez fosse um indiozinho se achando italianinho. Eu que desconfio e acredito em tudo, só escutava.
Então chegou a minha vez, ele perguntou o que eu fazia e blábláblá, e eu que não tenho muito o que inventar porque minha vida já é uma fantasia completa, fui comentando sobre um show estonteante que acabava de ver-sentir. Ele não entendeu muito. Expliquei alguns conceitos musicais “alternativos”(ai, odeio essa palavra), parece que gostou. Falei que gostava da parte visual-fotográfica e quero  trampar com isso ainda concretamente. Pelo o que ele contou – ou inventou- vai saber, né- é professor de antropologia numa pós duma universidade renomada. Ok. Também falei algo sobre p(r)ós e contras. Porque sou muito do contra, mas ainda faço uma pós de mim (não entendam como egotrip, é só uma descontraidinha).
Perguntou se eu trabalhava, disse que sim, porque realmente trabalho. E o local que trabalho possui certa “utilidade” universal, todo país tem um troço desse pra cada setor “organizado”(ou não-na maioria das vezes).  Quando falei isso seus olhos negros enormes arregalaram, pareciam que iam saltar, e então, ou ele inventou na hora ou era verdade:  o emblema –  uma legenda, estava estampado numa jaqueta vermelha horrorosa que ele usava, tipo de  universitários da Harvard – sei lá, porque cargas d´agua Harvard. E isso parece que o aproximou mais de mim, tipo, nossa, somos íntimos! Santo! Nessa hora, eu tentava, em vão, espiar por alguma poltrona vazia, mas o busão estava detonado de tanta gente. Nenhuminha, azar. Mas vamos lá.
As pessoas roncavam há esta altura, e muitos quilômetros atrás. Mas a viagem até que corria normal, não tinha mais o que conversar- ufa! - e eu “pego ar” fácil ao ter que estender o papo, porque, como já disse, não consigo me inventar tanto.  Mas bem que devia ter falado que fazia muay thai, tive ficha criminal, e que sou meio explosiva e nervosa e não sou boa companhia para um simples ou médio trajeto de ônibus.  Tá bom, agora inventei um pouco. Toda irrealidade é a (im) pressão que temos pelo comportamento-contato-tato às vezes  de difícil domínio-convívio. Blá, tá, é verdade.
Bom, eu realmente tomei um remedinho pra viajar mais tranqüila e capotar logo pro narigudinho não mais querer saber-de-onde-pra-onde-se-fui-ou-se-vou.  Antes, só notei que ele parecia dormir...até uns ronquinhos escutei(embora houvesse uma orquestra  ao redor).
Dormi com a cabeça pendida para o corredor escuro, já que a janela não me pertencia. Acho que estava na fase REM profunda, tudo muito enuviado-sonhos flutuantes, quando sinto minhas pernas sendo levemente acariciadas, que sensação estranha e, porque não gostosa...  esse sonho... mas então um apertão me acordou. Puta merda, que italianinho-brasileirinho safado( embora parecesse  israelense, nada contra, mas...sei lá, deixa pra lá).
É, a gente nunca sabe qual vai ser a reação numas situações toscas como estas... eu me afastei o quanto pude pra poltrona que saltava-implorava pelo corredor, e olha que já estava pendida o suficiente. Ele nem tchun, fingiu que não era com ele e até virou de frente pra “minha” janelinha. Realmente devia ter dado algum golpe “muaytesco”neste fingidor-roncador-antropólogo-ítalo-duma-figa!
 E eu fico aqui pensando -resmungando, o que será que ele vai ensinar, aprender ou assistir nesse congresso de educação?  Vá pra pós que te pariu, viu!

E ainda bem que não peguei a janelinha! Ham!

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Calabura


Quando eu tenho estalos de consciência sofro amnésia
Não quero ser mais engraçadinha na minha terra mental
Pintamos desperdício em todo vocabulário
E as vezes compreendo que nada faz sentido
Eu sofro regressão desde os 9 anos, e agora pareço estar em idade avançada
Mas permaneço pregada numa era infantil sem lembranças
Calabura, calabura, calabura
As graminhas verdes estralam no sol da minha memória
Uma árvore musical entediada e o topo de arco-íris
A lenda do circo e do sem-fim adeus
Um rosto marcado, um sexo molhado, um choro adiado, um abraço desperdiçado,
Olhares de raio x através da parede de madeira verde mostram o homem santo
Belo e aterrorizante para qualquer garota
Eu acho que perdi a minha fé naquele dia, mas continuei tentando após os 30
O perfume de erva fresca incendiando o lar
Uma dona de casa de olhos vendados e profundos
Meninas entrelaçadas na piscina de cimento
Cortinas de pernilongo e sabão no chão vermelho escorregadio
 Me lembram tanto o agora que não esqueço (o) ontem.
Calabura, calabura, calabura
Canta e urra.



Ecos de Ilha Solteira na Jaú-Bauru 

O.dor de amor






Quem nunca deu bafão de amor?

Bem, estava começando a ler a grande história sobre o "Gênesis" - interpretada e desenhada por Robert Crumb no busão. E no meio da história, outra se desenrolava, ou melhor, acaba ao fundo: o definhar de um casal. Ela: passional, miúda, atormentada. Chorava, minguava, gritava, acalmava e batia nele. Ele? Pequeno, miserável, encolhido, ranzinza, saturado, obstinado. Era o fim. Mas não, ela não cedia, não compreendia. O ônibus vazio. Ecos de desamor a cada freada. Ai. Nessa hora, eu não conseguia compreender mais a história de Adão e Eva - e o absurdo sobre ela. Estava "fantástica" demais para o teatro real que presenciava. Lembrei de algumas coisas que já vivenciei, causei e me causaram. E, então, depressa, voltei a leitura: "E os dois estavam nus, homem e mulher, e não tinham vergonha disso". Moral da história - ou se preferir, do "bonde do rolê": acho que sou pelada.


Ah, e o casal saiu aos berros, ele envergonhado, ela derrotada. Grande árvore do conhecimento.


Amandla R. - em um dia comum, fatos corriqueiros, e, não, não guardo mais nenhum isqueiro.