quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Plumamor

A passarinha-rainha está ausente
Brinda os laços ensinados e desamarrados
No riacho de ninho
Aqui, teus objetos todos obsoletos
Cheios de propósitos,
Firmes e íntegros como a tua carne
Pele – pluma – flutua - morena
Mas volta logo pra tua ansiosa e vagarosa alegria
Torpor de amor de 122 dias,
Comemoro teu pouso e morada em minha (p)alma
Bebe tudo o que possuo
E me ensina a cada alvorada que o pôr-do-sol e o vento são as únicas vestimentas
Alenta, como um cancioneiro incansável e ritmado
Espalha o canto dócil nos calos de minha mão
Que desliza na plumagem infinita de teu voo.



quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Pare!


Primavera 365

      Texto-poema por Amandla Rocha e Aline Maffi  

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Sovar o contentamento

Deixe-me organizar sobre o teu corpo
Minha potência, crença
Com toda a tensão em se respirar
Baixinho, baixinho, expiro, inspiro, suspiro
Sovo o contentamento
Nas linhas inexatas de minha palma da mão.


O desespero amoroso, áspero, em transe
Ocultos questionamentos, baratos, ingratos
O saber sobre o mistério não me agrada
Arrasa as penas em pleno vôo

A todo momento juramos nossos eus
Em contradição e distração ao firmamento.



domingo, 1 de dezembro de 2013

Crochê


Você me acalenta
É como recompensa da vida toda
Gozo como as estrelas fazem ao nascer
O coração em descompasso
Tateio o suor
O hino respiratório desfalece
Em prece, teço o futuro como as agulhas de um crochê.

sob(re) o saudável

Durável, deplorável, amável
Altas doses de instabilidade
A persona corrosiva
Inflama, derrama, aclama
Atônita na beleza, há movimento
Recomeço mais algumas aulas sobre o óbvio
Perversão rude em sopros obesos
Fixo meus lábios no macio (in)finito
Dói o antes: arrasta e limpa o agora
Palavras ecoam laçando a mudez
A canção-repetição do me deixe-ser
Ululante prazer, visto-me em você
A boca seca sabe o lugar.


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Coração e pata

Todos nós temos um cavalo no coração
O relincho é sangue coagulado
Cedo-tarde se esgoela manchando as paredes do corpo
Cavado danado que espia e entope as artérias
Cavalgo no sonho trotante
Calço as patas de lama
Na estrada de esterco, chuva e acerto.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Antônia


  • Eu quero te derramar toda dentro de mim, Te beber inteira Sem pudor, rancor ou valor Eu quero te esfregar na beira, Suar a tua alma junto aos demônios Só ardor-odor-calor Eu quero te entrar imensa, rastejando ao teu altar Com sombra, com chuva, toda imunda Eu quero te enxugar, lambuzar, estourar, roubar e sonhar Vivo nos capins sem fim, na planície aveludada dos teus trigos Morna, ondas revoltas de ar dançam a canção de bruços Escapa e trata, maltrata Rota, ou outra memória O derrame de sentidos excluídos, Nula de razão, sou fração, queimação Vermelho uterino, mendigo o abismo Cheiro de fumaça, desgraça, pirraça Antônia, louca e fraca glória Amanheça descalça a ti mesma Teus calos calmos pedem passagem.




sábado, 15 de junho de 2013

flutuar, afundar, remar.




"Well a man has two reasons for things that he does

The first one is pride and the second one is love"

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Como enxergar coração em fiapo de cobertor e não despencar

pós-trip-me-good?
Ontem eu a vi
Toda anulada
Seus lindos olhos inchados cor-de-mel deslocados
Nos abraçamos tímidas e ocas
Seu corpo longuíquo
Ilhada, ingeriu tempestades
Exalava um torpor derrotado
Mas havia medalhas no cantinho de seus lábios avermelhados
Esboçava um sorriso meio torto e tenso, na verdade, quase imperceptível, como um tique charmoso
Eu estava devorando cada erro de sua fisionomia, confesso
Era irrefreável, instintivo e urgente
Gostaria de salvá-la, embora fosse o meu abismo
O que poderia fazer? Sugestões e tolas opiniões?
Era melhor assisti-la passiva, incrédula
Aquela presença neutra contrastava com a soma dos lamentos
Oh mulher se aprume, rume
Eu rujo e fujo, sei
Talvez a sensatez me vista dessa vez
Ou visite, ao menos
Essa despedida de lágrimas ruidosas e nervosas desfoca, sufoca
Transbordamento ou espancamento?
Não bebo mais de seus trópicos
Vaidade, dependência
Fraude e falência
Um urro a anulação
Eu atualizo meus nãos
Então ela vira as costas
Sem jamais partir.



quinta-feira, 30 de maio de 2013

C.O.V.A

Elisas - Alemanha - Brasil.

Saudade é uma cova viva
Eu ainda estou morna
Minha pele ressecada é de lembrança
O afeto monstruoso
Arroto inúmeras vezes o teu tamanho
Eu retorno com meu coração assombrado e pelado
Nunca preparado
Sim, sabemos, a saudade é uma cova viva
Vã regressão sentimental
Afiada e desconfiada
Rasa, chata, rata, rapta
Tarda, fada, faca e nada

Saudades.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Tim Burton´s tree





Há uma rua onde uma árvore morre a cada dia. E sua sombra é um descompasso belo em decadência...

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Zelo-zero

La Burca em dia de contaminação. Foto por : Dagma Miscelânea
Eu zerei. Nada entrou. Nada saiu. Zero. Vácuo. Só o barulho agudo do meu nervosismo e o sangue grave correndo em minhas veias. Acabei. Vácuo. Zunido (in)finito. Não rezei, apenas reclamei. Internamente, perversamente. Malvada e ingrata. Nada. Seca. Morta. Um recado inútil, nunca passado. Zerada, cheia de números que não somam. A arcada dentária derrapa em minha boca, mordo o verde e engulo a carne pesada. Gases, cólicas, gritos sufocados em vergonha. Se quebro, continua quebrado. O barulho da janela. Anos e anos e a janela continua gritando, berrando, arrastando o barulho de ser janela.
E não há óleo que a cale. Não existe o óleo. Sem conserto assume o erro. Cabe no erro, confortável erro. A sombra hereditária castiga, mastiga. Queima, arde amarga. O catarro não sai, gramas de quilos salgados escorregam guela abaixo. Gosto ruim, entorpece-me o sangue frio. Bem embaixo, lá embaixo, deito-me. Estou gelada, apaixonada pelo delírio. O desprezo engorda o desgosto, já não mais desgosto, e sim, gosto. Eu zerei. Nada entrou, nada saiu.


Texto provavelmente escrito em 2007, encontrado em um zine semi-esquecido da autora. 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Sem zzzz


E então eu vi a mosca 

A mosca se debatia no chão da cozinha,
Andava em círculos, lerda e muda
Insisti por uns instantes para que se equilibrasse e voasse dali,
Algo natural
Mas...desisti dela
Ela que escolhesse o próprio caminho
Fui ao banheiro
E então olho para a parede: a mosca grudada lá!
Ela voou rasante e cambaleante, querendo me dizer algo, mas novamente nenhum zzz
Pedi pra ela ir embora, abri a janela e afastei  a cortina do box
Mas não, permanecia próxima
Me causou repugnância, toda grudada agora no solo
Peguei um pedaço de papel e com um dedo escutei o barulho crocante de sua morte
Pronto, fui dormir exausta com um zumbido mudo no ouvido.


Fiapo






Não é momento de nada
Tire teus pedacinhos de mim
Limpo os pedacinhos sem fim
Não é momento para nada
Escôo tuas vozes de amor
Autoridade de amor aos pedaços
Agora não é momento para nada
Eu não te agradeço, eu não te conheço
Eu me pertenço
Cesse-me, não há momento para nada
Por que o amor ama impor o amor?